segunda-feira, 7 de março de 2016

Novo estudo mostra que vírus destrói célula neuronal



Saúde: o zika é capaz de infectar um tipo de célula-tronco neuronal que dá origem ao córtex cerebral, a área responsável pelas capacidades intelectuais.



Em um intervalo de apenas dois dias, duas pesquisas independentes, uma no Rio e outra nosEstados Unidos, chegaram a conclusões muito parecidas sobre como o vírus da zika é capaz de agir no cérebro, infectando e matando células neuronais, o que reforça a suspeita de que está por trás do aumento no número de casos de microcefalia no Brasil.
Na última quarta-feira, 2, um grupo carioca liderado pelo neurocientista Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or, publicou um trabalho, em sistema de preprint (antes de avaliação por pares), que mostra que o zika infecta as células que agem como progenitoras cerebrais, ou seja, que dão origem ao órgão, o que acaba tendo efeito no seu desenvolvimento.Na sexta-feira, 4, pesquisadores das universidades americanas Johns Hopkins e Estadual da Flórida publicaram um trabalho na revista Cell Stem Cell com achados muitos parecidos. Segundo eles, o zika é capaz de infectar um tipo de célula-tronco neuronal que dá origem ao córtex cerebral, a área responsável pelas capacidades intelectuais.


Trabalhando com células-tronco de pluripotência induzida cultivadas in vitro, assim como a equipe do Rio, e depois colocadas em contato com o vírus, eles viram que a infecção ocorria em três dias. Na sequência, as células acabavam sendo usadas para replicação viral. Elas ficavam mais propensas a morrer e menos propensas a se dividir normalmente e criar novas células cerebrais. 

Mais provas


Os pesquisadores ressaltam que os resultados ainda não provam a relação causal com a microcefalia, mas revelam onde o zika é capaz de causar danos. Segundo eles, esse trabalho é só o primeiro passo. Ainda não se sabe, por exemplo, o que está acontecendo no desenvolvimento do feto.
"Pelo nosso estudo, sabemos que o zika pode infectar e destruir ou ao menos atrasar o crescimento das células neuronais progenitoras do córtex em cultura de células", disse ao Estado Guo-li Ming, neurocientista da Johns Hopkins. "Para saber se isso tem como consequência direta a microcefalia precisamos de mais estudos, e essa evidência deve vir de estudos clínicos."


Ming disse que leu o trabalho de Rehen com grande interesse e ficou feliz de as conclusões convergirem. "Fica claro que a infecção por zika causa impacto no crescimento e na sobrevivência das células-tronco. Os dois estudos também validam que as células-tronco cultivadas em laboratório são um bom modelo experimental para avançar o conhecimento sobre a microcefalia."


Rehen também reforçou que a existência dos dois trabalhos consolida os dados. "Mas para entender a microcefalia precisamos de mais estudos. Alterações no ciclo celular também podem estar envolvidas. Não é só a morte celular que conta."
Fonte:http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/novo-estudo-mostra-que-virus-destroi-celula-neuronal-2.Giovana Girardi,

9 a cada 10 células do nosso corpo são de micróbios
Nosso organismo hospeda muitos micróbios (Fonte da imagem: Reprodução/Estadão)
Pelo que foi estudado até o momento, apenas poucos micróbios realmente nos deixam doentes, já que a maioria utiliza nosso corpo como “casa” e poderia ser classificada como “bons inquilinos”. Somente no nosso intestino, existem cerca de mil espécies de micróbios que trazem ao nosso corpo cem vezes mais genes que o nosso próprio DNA carrega.
Fonte: ScienceThe Guardian e Wired
Corpo humano abriga quase 10 mil espécies de micróbios. Projeto fez primeiro mapa de microrganismos que 'colonizam' o homem. Conhecer as diferenças entre o microbioma de pessoas saudáveis e doentes pode levar a novos medicamentos.

Os seres humanos são verdadeiros ecossistemas sobre duas pernas, pois cada pessoa carrega uma quantidade de  micróbios 10 vezes maior que o total de células humanas.  O corpo humano adulto e saudável abriga dez vezes mais micróbios que células humanas e esse contingente inclui arqueobacterias (bactérias primitivas), vírus, bactérias e micróbios eucarióticos (que têm o material genético envolto por membrana). O conjunto do genoma desses organismos é muito maior do que o humanoNa visão dos cientistas, identificar os números assombrosos de bactérias e outros micróbios que vivem dentro e em nossos corpos é como explorar um novo planeta.
Projeto Microbioma Humano (The Human Microbioma Projeto Consortium  ou HMP, em inglês)), financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NHI, em inglês)  é uma colaboração entre os maiores centros de sequenciamento e dezenas de outras instituições de pesquisa de vários países. No projeto, participaram quase 80 instituições de pesquisa multidisciplinar que trabalharam durante cinco anos com um subsídio de 153 milhões de dólares (cerca de 206 milhões de reais).  O Projeto anunciou os resultados em vários artigos publicados nas revistas Nature e Public Library of Sciences(PLoS).
As pesquisas usaram técnicas de sequenciamento de DNA para identificar os microrganismos e mostrar sua diversidade e abundância nos seres humanos, além de suas funções no corpo. Os microrganismos analisados foram retirados de 242 homens e mulheres. A coleta foi feita em diferentes partes do corpo, como pele, boca, intestino e vagina.
Até então, só as bactérias do trato gastrointestinal haviam sido catalogadas pelo projeto MetaHIT, que envolve oito países. Os pesquisadores concluíram que quase 10 mil espécies de microrganismos perfazem as comunidades ecológicas no nosso corpo.Eles também mostraram que cada parte do corpo tem uma população diferente de micróbios, cada uma com sua função -no caso do intestino, os microrganismos ajudam a digerir os alimentos.
O projeto mostrou ainda que cada pessoa tem um microbioma único, com tipos e quantidades diferentes de bactérias para realizar o mesmo trabalho. Uma quantidade alta ou baixa da mesma bactéria não quer dizer que uma pessoa seja mais ou menos saudável. James Versalovic, pesquisador do projeto e chefe do departamento de patologia do Texas Children's Hospital, nos EUA, afirma que a maioria dos micróbios no corpo não causa doenças. "Esperamos que com esses dados as pessoas fiquem menos paranoicas e não usem antibióticos ou sabonetes bactericidas para tudo. Interferir no equilíbrio do microbioma pode causar mais danos que benefícios."
Versalovic diz que definir o microbioma de um adulto saudável e saber quais são e o que fazem os micróbios que habitam o ser humano era o primeiro objetivo do Projeto Microbioma Humano. Agora, com o material genético proveniente de comunidades completas de micróbios, os próximos passos serão comparar os micróbios de pessoas saudáveis com os de doentes para entender como os problemas se desenvolvem e criar novas drogas.
Um dos estudos do MetaHIT já mostrou que quem tem menor diversidade de bactérias na flora intestinaltende a ser obeso, a ter mais gordura no fígado e responder pior a dietas. "Essa é só a ponta do iceberg. O interessante será observar como os dois genomas -o humano e o dos microrganismos- interagem", dizVasco Azevedo, professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
Fonte:http://profjabiorritmo.blogspot.com.br/2012/06/mais-bacterias-que-celulas-humanas.html

Células sanguíneas podem ser reprogramadas para atuarem em outras partes do corpo (Fonte da   imagem:Reprodução/Wikimedia Commons)

Células “reprogramadas” poderão criar tecidos e órgãos.

Um dos grandes avanços na área da saúde está na “reprogramação” de células adultas. Com esta conquista, os cientistas conseguiram transformar células de pele ou sangue nas chamadas “células pluripotentes” — que possuem o potencial de se tornar qualquer tipo de célula existente no organismo.Tal descoberta é um grande passo para o tratamento de doenças raras, pois os cientistas já estão utilizando a técnica na produção de linhas de células voltadas a determinados pacientes. Além disso, outros genes são capazes de transformar as células da pele em neurônios ou até mesmo em células de sangue. Outro grande objetivo deste tipo de técnica está em poder auxiliar transplantes, criando e substituindo tecidos, células e órgãos.
                                                                         Explicando Melhor
As células pluripotentes, que são células adultas reprogramadas para rejuvenescer e recuperar as propriedades das células-tronco embrionárias (ES), são uma esperança da medicina por seus potenciais terapêuticos. A aplicação é tão importante que hoje, dois pesquisadores que descobriram de que células adultas podem ser reprogramadas e se tornarem pluripotentes receberam o Nobel de Medicina 2012. 
Nos centros de pesquisas do o britânico John B. Gurdon, de 79 anos, e o japonês Shinya Yamanaka, de 50 anos, as " células-tronco pluripotentes induzidas" ou "células IPS" têm sua origem em uma célula adulta diferenciada, que retorna ao estado de célula embrionária pluripotente, graças ao trabalho de engenharia genética. 
Na natureza, após a fecundação, o óvulo se divide e rapidamente aparecem as células que dão origem a todos os tecidos do corpo. São as células-tronco embrionárias pluripotentes que têm a capacidade para gerar todos os tipos de células.
Porém, com o desenvolvimento do embrião, as células se especializam e perdem a capacidade de se transformar em células com diferentes funções (células nervosas, cardíacas, etc).
A equipe do japonês Yamanaka demonstrou em células de camundongo em 2006 e, em seguida, em células humanas em 2007, que podemos reprogramar uma célula adulta para fazê-la recuperar as características de uma célula-tronco embrionária.
As pesquisas de Yamanaka constituíram "uma descoberta revolucionária real", entusiasmou-se Jean-Marc Lemaitre, do Instituto de Genômica Funcional (Inserm).
Com estas novas células IPS, "você pode obter praticamente qualquer tipo de célula do corpo", explica o pesquisador francês que tem usado esta técnica para rejuvenescer células centenárias, e mostra que o processo de envelhecimento é reversível.
As células IPS apresentam vantagens semelhantes às das células-tronco embrionárias, mas não envolvem o problema ético relacionado com a necessidade de manipular embriões.
As IPS podem ser uma fonte de células para fazer tudo, por exemplo, testar novas drogas ou estudar doenças.
Para a terapia celular experimental, elas não levam o risco a priori de rejeição por parte do corpo, porque vêm do próprio paciente.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer antes de assegurar a sua total segurança.
"Não há nenhuma aplicação clínica prevista desta técnica avançada", ressaltou à AFP Marc Peschanski, diretor científico do I-Stem (Instituto de Pesquisa com células-tronco - Inserm).
No entanto, em 2013 um teste clínico de "inocuidade" em Kobe, no Japão, deve usar pela primeira vez esta técnica em um ensaio sobre a retina em pacientes que sofrem de degeneração macular relacionada à idade (DMRI).
Além disso, uma outra linha de pesquisa está começando: produzir em grande quantidade células (IPS  células madre pluripotentes Induzidas)   a partir de um pequeno grupo de doador  es que poderiam ser utilizadas para um grande número de receptores.

Fonte:http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2012-10-08/celulas-pluripotentsao-consideradas-a-grande-esperanca-da-medicina.html


    1 – O DNA dos neandertais sobrevive em nossos genes

    O RNA era visto como uma “matéria escura” do DNA, pois a complexidade de seu papel como “mensageiro” em levar, na forma de genes, as instruções necessárias para a produção de proteínas ainda era um mistério para a ciência.
    No entanto, aparentemente, uma “luz” caiu sobre essa questão — já que os cientistas acreditam terem compreendido melhor o papel do RNA como uma peça com grande influência na forma que os genomas operam em nosso organismo.
    Além disso, eles também perceberam que o “DNA lixo” (pedaços que eram classificados como pouco úteis e que são encontrados entre os genes “transportados” pelo RNA) passou a fazer um papel importante na regulação dos genes — especialmente por alguns acreditarem que a verdade sobre o funcionamento desse processo encontra-se exatamente nessas peças.

    quinta-feira, 30 de abril de 2015

     


    Cranioestenose

     

     

     

    O crânio não é formado por um osso único como se fosse um capacete, mas por “placas” ósseas que são unidas entre si por linhas chamadas suturas. As suturas cranianas estão presentes para ajudar na modelagem da cabeça durante o parto e também na modelagem da cabeça em crescimento. Elas funcionam como áreas de expansão que permitem que o cérebro possa crescer dentro da calota craniana. As suturas normalmente se fundem após o término do crescimento do crânio, no entanto, em alguns casos elas se fundem antes do nascimento, provocando alterações na forma da cabeça.
    As cranioestenoses ou craniossinostoses são caracterizadas pela fusão prematura de uma ou mais suturas cranianas, tendo como consequência uma deformação do crânio e podem ser responsáveis por um conflito de crescimento entre o crânio e o encéfalo, que resulta por vezes em uma hipertensão intracraniana crônica. Esse conflito pode deixar sequelas, notadamente visuais e mentais.
    As principais suturas cranianas são: a sutura sagital, as suturas coronais, a sutura metópica e as suturas lambdóides.

     O mecanismo que causa a fusão prematura de uma sutura craniana é pouco conhecido. Existe, no entanto, uma hipótese relacionada à constrição da cabeça fetal dentro do útero. Essa constrição pode estar associada a uma posição inadequada do bebê no útero, que prejudicaria a movimentação de sua cabeça levando a uma pressão continuada sobre o crânio. A pressão externa contínua sobre o crânio, por sua vez, restringiria a capacidade das suturas cranianas de se expandirem com o crescimento do cérebro. Quando uma sutura não é capaz de expandir, ela acaba se fundindo precocemente. Fala a favor dessa hipótese o fato de haver uma maior incidência de cranioestenoses em pacientes gêmeos.

    Outra razão para o desenvolvimento de uma cranioestenose está relacionada a alterações nos genes da criança. Fala a favor de um componente genético o fato de existirem cerca de 8% de formas familiares de cranioestenoses, com alguns cromossomos específicos relacionados. No entanto, cabe ressaltar que a grande maioria dos casos de cranioestenose com acometimento de uma única sutura ocorre de forma esporádica.

     Diagnosticando uma cranioestenose

    O diagnóstico de uma cranioestenose, na grande maioria dos casos, pode ser feito com o exame clínico do bebê, com a simples observação da morfologia craniofacial. Geralmente, quando uma única sutura se fecha, ocorre uma diminuição do crescimento na área da sutura acometida, com um crescimento compensatório nas áreas das outras suturas. Esse crescimento compensatório das demais suturas produz as formas características dos crânios que observamos nos pacientes com cranioestenoses.
    A confirmação da suspeita clínica pode ser feita com a solicitação de radiografias simples do crânio, que vão mostrar a área da sutura fechada. Outro exame de imagem que pode ser solicitado é a tomografia computadorizada do crânio. Trata-se do melhor exame para confirmar se uma sutura está aberta ou fechada. A tomografia permite uma excelente análise das modificações da base do crânio e das órbitas, principalmente nos raros casos em que o exame físico apresenta alterações muito sutis ou ainda quando há suspeita de fechamento de mais de uma sutura.


    Problemas relacionados à fusão prematura de uma sutura craniana

    Existe muita controvérsia em relação às consequências que o fechamento precoce de uma única sutura craniana pode causar. Alguns estudos mostram uma taxa mais alta de alterações de desenvolvimento e comportamento em crianças com cranioestenoses, no entanto os métodos de avaliação são questionáveis, principalmente pela dificuldade de se avaliar a inteligência em crianças muito novas.
    O que diversos estudos já comprovaram é que ocorre um aumento da pressão intracraniana em um percentual variável de crianças com cranioestenoses não operadas. Na medida em que é devida a um conflito de crescimento entre o encéfalo e o crânio, a hipertensão intracraniana nas cranioestenoses é crônica e raramente atinge valores muito elevados, a menos que uma doença intercorrente venha a lhe agravar (traumatismo craniano, doença infecciosa, etc). Ela quase nunca representa uma ameaça a vida. Da mesma forma, as suas manifestações clínicas são raramente completas, frequentemente reduzidas às cefaléias ou ainda completamente ausentes.
    A avaliação da hipertensão intracraniana é geralmente feita através de medidas indiretas, como o exame de fundo de olho, que pode mostrar sofrimento do nervo óptico, e as radiografias de crânio, que podem mostrar impressões digitiformes (impressões das circunvolunções cerebrais, ou seja, do relevo do cérebro) sobre o crânio. No entanto, a normalidade do fundo de olho não permite excluir uma hipertensão intracraniana, que pode ser apenas reconhecida realizando um registro de pressão com a ajuda de um sensor extradural colocado ao nível da calota craniana.
    A hipertensão intracraniana é mais frequente quando há maior número de suturas acometidas. Além disso, sua frequência aumenta com a idade: na maior parte das cranioestenoses, a hipertensão intracraniana é duas vezes mais frequente após um ano de vida.
    É preciso notar que as correlações entre hipertensão intracraniana medida por registro, exame de fundo de olho e radiografias do crânio são muito ruins. Entre as crianças com uma hipertensão intracraniana comprovada, mais de 2/3 têm um fundo de olho normal e cerca de 1/3 não apresentam impressões digitiformes.


    Acometimento visual

    A diminuição da acuidade visual é consequência do sofrimento do nervo óptico devido à hipertensão intracraniana. A sua frequência real não é bem conhecida porque a acuidade visual é difícil de ser avaliada em crianças pequenas. Para compensar, o edema papilar e a atrofia óptica são pesquisados sistematicamente e sua frequência pode ser determinada. Pode-se observar que a sua frequência é comparável à da hipertensão intracraniana, sendo mais comum nas cranioestenoses múltiplas. Da mesma forma, a frequência de acometimento papilar aumenta consideravelmente após um ano de idade.


    Acometimento intelectual

    O estudo sistemático das perfomances intelectuais de crianças acometidas por cranioestenoses mostra que, como para a hipertensão intracraniana e o acometimento papilar, as formas afetando múltiplas suturas apresentam um acometimento intelectual maior que as outras. Assim, as braquicefalias, as formas complexas e as formas sindrômicas são deste ponto de vista particularmente graves.
    Por outro lado, e paralelamente a evolução da pressão intracraniana, deve ser enfatizado que a frequência do acometimento mental aumenta com a idade, em quase todos os tipos de cranioestenoses. Esse acometimento é muitas vezes observado através de pequenos atrasos de desenvolvimento e aprendizado, observados pelos próprios pais, em comparação com crianças da mesma idade.

     Há necessidade de se operar uma cranioestenose?

     Existe muita controvérsia em relação ao tratamento cirúrgico das cranioestenoses. Há uma discussão entre a necessidade ou não de cirurgia, a idade ideal para se operar e qual a melhor técnica operatória. Poucos centros especializados consideram que não há necessidade de se operar as cranioestenoses com acometimento de sutura única. Seus argumentos se baseiam no fato das demais suturas estarem abertas e propiciarem um crescimento compensatório do cérebro. No entanto, quando se levam em consideração os estudos relativos ao crescimento cerebral e desenvolvimento cognitivo, aumento de pressão intracraniana e fluxo sanguíneo cerebral, o pensamento atual é que a maioria das crianças vai precisar de tratamento cirúrgico. Embora o crescimento do cérebro possa efetivamente ocorrer através das áreas das demais suturas, o fluxo sanguíneo cerebral encontra-se diminuído na área adjacente à sutura comprometida. O quanto esse fluxo diminuído vai acarretar em déficit cognitivo é ainda difícil de se determinar por se tratarem de pacientes muito jovens, cuja avaliação neurológica é naturalmente mais complicada.

    Existe risco de sequelas na cirurgia?

     É importante esclarecer que a cirurgia não vai criar uma nova sutura funcionante. Uma vez que a sutura se encontra fechada, um novo centro de crescimento ósseo não pode ser criado. A cirurgia, no entanto, restabelece a forma e o tamanho adequado do crânio, o que provavelmente levará ao restabelecimento do fluxo sanguíneo cerebral.
    Além de toda essa questão funcional, as crianças que não são operadas de cranioestenoses vão apresentar deformidades cranianas de gravidade variável e a sua aparência pode ter um efeito profundo no desenvolvimento de sua personalidade, no seu desejo de interagir socialmente com seus semelhantes e até mesmo no seu desejo de ir para a escola.
    Apenas quando o crânio está levemente envolvido, parece ser menos provável que apresente impacto significativo sobre o cérebro e sobre a aparência. Nesses casos específicos, a cirurgia pode não ser indicada.
    A cirurgia se baseia em remodelamento craniano sem acesso ao cérebro propriamente. Portanto, os riscos são pequenos. No entanto, ela é considerada de grande porte em bebês muito pequenos. Por isso, deve-se cuidar de possíveis perdas sanguíneas com transfusão de sangue e realizar a cirurgia em centros grandes, com UTI pediátrica.
    O tratamento cirúrgico é apenas estético?
    Essa é uma pergunta muito comum quando se indica uma cirurgia de cranioestenose. Obviamente o tratamento cirúrgico promove um remodelamento ósseo, com melhora do aspecto estético. Há de se entender que a estética na criança tem valor funcional, pois evita que ela receba apelidos na escola ou sinta-se estigmatizada por ter uma forma diferente da cabeça, o que pode modificar definitivamente a vida dela. Trabalhos mostram que o tratamento cirúrgico também evita a hipertensão intracraniana, que pode ocorrer em alguns casos e dificultar o bom desenvolvimento neuropsicomotor da criança.

    O que é deformidade craniana posicional? Qual o tratamento nesse caso?
    A postura viciosa no berço da criança pode ocasionar achatamento do osso no local de apoio, gerando uma deformidade posicional. É possível diferenciá-la clinicamente dos casos de cranioestenose, mas a tomografia 3D pode dar o diagnóstico. Esses casos não são cirúrgicos e o tratamento é a mudança de posição no berço ou o uso de órteses (capacetes), que auxiliam o tratamento e aceleram o remodelamento ósseo. Os casos mais comuns são chamados de plagiocefalias posicionais posteriores.



    Classificação das cranioestenoses conforme a sutura acometida


    ESCAFOCEFALIA – SUTURA SAGITAL


    A escafocefalia, também chamada de dolicocefalia ou clinocefalia, corresponde a uma fusão prematura da sutura sagital. Essa sutura atravessa ântero-posteriormente o crânio, se iniciando na fontanela (“moleira”) anterior, ou bregma. Em alguns casos, a “moleira” estará fechada quando essa sutura for acometida. É a cranioestenose mais frequente com uma incidência em torno de 1 em cada 2000 nascidos vivos e com uma prevalência maior no gênero masculino (em uma proporção aproximada de 3,5:1). O crânio é exageradamente alongado no sentido antêro-posterior e a região parietal é retraída transversalmente. No perfil, a parte posterior do crânio se encontra mais baixa que a anterior, ao contrário de uma criança normal.

     


     TRIGONOCEFALIA – SUTURA METÓPICA

    A trigonocefalia corresponde ao fechamento precoce da sutura metópica. A fronte é estreita, marcada por uma crista mediana e apontada anteriormente como a proa de um barco, levando a uma forma triangular ou em quilha característica da fronte. As bossas frontais são apagadas. Está associado comumente um hipotelorismo (aproximação das órbitas) e um estreitamento de toda a face. É mais comum no gênero masculino (2,5:1) e sua incidência ocorre entre 1 para 2.500 e 1 para 3.500 nascimentos. Existe uma correlação entre trigonocefalia e o uso de ácido valpróico durante a gestação. É a cranioestenose de sutura única mais comumente associada a anomalias cromossomiais e estudos de ressonância magnética mostram diminuição do fluxo sanguíneo cerebral na área frontal, o que pode ser relacionado aos atrasos de aprendizado comumente vistos nos pacientes portadores dessa cranioestenose.



     PLAGIOCEFALIA – SUTURA CORONAL UNILATERAL 
     
    A plagiocefalia é a cranioestenose que corresponde ao fechamento precoce da sutura coronal unilateral. É caracterizada por uma assimetria do crânio e da face, apresentando uma ascensão da órbita no lado acometido, com deslocamento do nariz e um abaulamento frontal contralateral à sutura comprometida. A assimetria orbitária é a característica clínica mais marcante e o diagnóstico pode ser feito olhando-se a criança de cima e se observando a ascensão de uma órbita. No exame radiográfico, essa alteração é conhecida como “olho de arlequim”. A plagiocefalia tem uma incidência aproximada de 1:3500 nascidos vivos, sendo mais frequente no sexo feminino, numa proporção de 2:1. Raramente, crianças com uma sutura coronal fusionada podem apresentar uma mutação gênica que pode significar uma condição chamada de Síndrome de Muenke.


     BRAQUICEFALIA – SUTURA CORONAL BILATERAL
     
    A braquicefallia corresponde ao fechamento de ambas as suturas coronais, levando a um recuo frontal bilateral, predominando na parte supra-orbital. Em geral, o crânio é retraído anterior e posteriormente, levando a uma fronte curta com dorso nasal baixo e região occipital aplainada, e alargado transversalmente. Esse alargamento transverso pode levar a um afastamento das órbitas, chamado de hiperteleorbitismo. A sua incidência é ligeiramente maior no gênero feminino (1,7:1).
    O acometimento da sutura coronal bilateralmente é muito comum nos casos de cranioestenoses sindrômicas, ou craniofacioestenoses, nos quais ocorre também um comprometimento da face com ou sem alteração de extremidades (mãos e pés).

     PLAGIOCEFALIA POSTERIOR – SUTURA LAMBDÓIDE
     
    São cranioestenoses muito raras, que ocorrem pelo fechamento da sutura lambdóide unilateral. Ocorre um achatamento do lado da sutura acometida, levando à formação de uma bossa frontal contralateral compensatória. Geralmente se observa um deslocamento posterior da orelha no lado acometido. Sua incidência é desconhecida, mas estima-se que seja inferior a 1:50.000 nascidos vivos. Trata-se, portanto, de uma cranioestenose extremamente rara.
    Apesar de ser infrequente, a importância do seu diagnóstico reside, principalmente, no fato de fazer diagnóstico diferencial com a plagiocefalia posicional ou deformante, uma causa muito comum de deformidade craniana, geralmente associada a uma posição viciosa do bebê no leito e que será discutida em outro tópico.